22 novembro, 2009

"Muito trabalha um burro"



...ser um workaholic. Em primeiro lugar, quero diferenciar um workaholic de um "dinheirolic", este último trabalha pelo dinheiro e não pelo trabalho em si, não que seja muito melhor que o primeiro e talvez mereça também um post mais tarde uma vez que com a tradição dos enfermeiros para acumularem funções, existe um grande número dos dois. Regressando ao tema principal, o workaholic, pode ser definido como aquele profissional que trabalha demais, por prazer ou vicio e que chega a confundir a vida pessoal e profissional. Penso que enquanto enfermeiros, todos conhecemos alguém assim (talvez nós próprios?). O aparecimento destes é motivado pela alta competitividade, vaidade, ganância, ou alguma necessidade pessoal de provar algo a alguém ou a si mesmo (percebe-se porque a enfermagem é o berço ideal para o nascimento destes). Estou a falar daqueles colegas que trabalham 50...60...70...80 ou mais horas/semana e só assim são felizes, não têm amigos (talvez alguns no trabalho?), a família é só para perder tempo útil e quando não podem estar no local de trabalho, levam o trabalho para casa, conseguindo trabalhar quase 24h por dia e muitas vezes comem, dormem, vivem literalmente no local de trabalho. Quais as consequências disto? Conseguem-se imaginar as consequências de (só) tirar prazer de algo que normalmente é visto como o inverso do lazer, do descanso. Com o tempo, a produção tende a cair, uma consequência do stress, cansaço e até doenças cardiovasculares; a visão do mundo é reduzida, a criatividade fica comprometida e o processo de tomada de decisão é prejudicado. Para além disso, e enquanto não-patrão/gestor o que interfere comigo é o facto destas serem pessoas tendencialmente amarguradas, agressivamente competitivas, solitárias, até deprimidas e da minha experiência pessoal, óptimos candidatos a graxistas/falsos. Felizmente as empresas (talvez não as portuguesas) já se começaram a aperceber que este distúrbio teoricamente rendível é na prática e a médio/longo prazo um fracasso para a empresa, uma vez que se está a voltar ás práticas de melhoria do ambiente/condições de trabalho com vista a um aumento do rendimento geral; claro que em Portugal ainda estamos mais na fase de crer que a melhor maneira de aumentar o rendimento é aumentar as horas de trabalho, diminuir o descanso, o lazer e diminuir custos com melhoria de condições de trabalho e protecção social, não se pensa a longo prazo. Em jeito de conclusão diria que eu me considero um... "fériasholic" e por falar nisso, as próximas férias estão a bater à porta (ou à janela)... que bem me vão saber!

20 novembro, 2009

A verdade da mentira



...ser atraiçoado pelos colegas. Dedico este post a todos aqueles enfermeiros que têm tanto de traiçoeiros como de graxistas, ou seja, a um grande número de colegas (pelo menos do meu universo). Já tinha falado anteriormente nesta falsidade que mina a enfermagem e que associei ao elevado número de mulheres na profissão, embora os homens também tendam a seguir o mesmo caminho. Desde sempre lidei com graxistas e pessoas falsas, desde os tempos da escola que reparei que ser graxista dava resultado e agora os colegas de profissão, que talvez por serem enfermeiros (tenho ideia que é uma profissão com pretensão para tal), são do mais graxista e falso que alguma tinha visto. Não importa serem bons profissionais, o que importa é fingirem e iludirem os superiores hierárquicos, com falinhas mansas, acusações de colegas (muitas vezes falsas) e outros métodos tão criativos como asquerosos. A verdade é que por mais imparcial que um chefe tente ser acaba por ser iludido por estas "bailarinas do ventre", que desviam a atenção da sua incompetência e que por vezes são tão boas que conseguem iludir mesmo os colegas que pensam contar com o mesmo apoio que lhes dão e na verdade estão a ser "apunhalados pelas costas" e só dão conta disso muito mais tarde. O que eu só descobri enquanto profissional foi um sub-tipo de graxista/falso, que é já uma refinação do graxista/falso básico, provavelmente especializado após vários anos de lambe-botas, de escovagem, que são os que eu denomino de graxistas-esponja e que absorvem tudo o que os colegas dizem (e fazem) para mais tarde citar (descontextualizadamente) tendo em vista a satisfação das suas próprias pretensões ou simplesmente descredibilizar e rebaixar os colegas perante outros; estas são pessoas cujo discurso, se escrito, estaria sempre entre aspas, nada do que dizem é da sua autoria, não têm ideias nem ideais, usam os dos outros, nunca querem nada (os colegas é que querem), nunca têm críticas fazer aos chefes - são os colegas, e assim vão subindo na vida (raramente chegam a cair), usando os colegas e abusando dos chefes.

O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém. (William Shakespeare)

19 novembro, 2009

Prenda de Natal antecipada




...não ter Natal. Já tive conhecimento do "horário das festas 2009"; vou ficar (outra vez) sem Natal. Fazer tarde a 24 e tarde a 25 impede-me de jantar com a minha família no dia 24 e de almoçar com ela no dia 25 por esta se encontrar relativamente longe, mas... hei! Tens o Ano Novo livre!!! Que bom... só é pena que a passagem de ano não tenha qualquer significado para mim... festejos há muitos, festas com a família junta (para mim) não. E o que recebo eu em troca, como consolação? Um ordenado base como nos outros meses, que não reflecte a minha licenciatura, ao contrário de todos os outros profissionais licenciados; como este ano não faço a noite em si, nem aos pobres suplementos (iguais aos de qualquer outra noite) tenho direito. Sinceramente, o simples facto de saber que posso tornar melhor o Natal de outras pessoas não compensa a minha perda (do Natal), quando (quase) toda a gente está a viver um dia(/noite) tão especial junto dos seus familiares, a celebrar como só se faz uma vez no ano, com troca de prendas, de afectos e com iguarias que não se comem no resto do ano, ou pelo menos não têm definitivamente o mesmo sabor. As montras enfeitadas com pinheiros de Natal e bonecos-de-neve não nos fazem lembrar o Natal, mas o hospital, a publicidade aos brinquedos, aos perfumes, aos bombons e ao uísque não nos fazem lembrar as prendas mas o trabalho, os normais votos de "boas festas!" são substituídos por votos de "uma noite de trabalho sem percalços" e o "jantar de Natal do serviço" da praxe torna-se uma mostra do que vamos perder. É isto que é ser enfermeiro; se eu não sabia disso quando optei por este caminho? Sim, sabia, mas não sabia era que tal sacrifício era tão desprezado pelos demais.

14 novembro, 2009

Trocas e baldrocas



...ser trocado. Uma das poucas vantagens (talvez a única verdadeira) do roullement é a flexibilidade do nosso horário, sendo que o podemos ajustar ás nossas necessidades. Qual é o limite deste ajuste? Excluindo aqueles chefes que (quase) proíbem as trocas (e os limites legais), "a nossa liberdade termina onde começa a dos outros", e aqui chegamos ao cerne deste post. O facto de se fazer uma troca significa que se vai trocar um turno nosso pelo turno de outro colega, o que pressupõe que alterando o nosso horário vamos também alterar o horário do colega. Aquilo a que eu assisto diariamente são colegas que conseguem em pouco tempo alterar (quase) todos os turnos, ficando com um horário completamente diferente, de acordo com as suas preferências; depois vejo as colegas que trocam menos turnos, mas decidem sempre juntar muitas folgas ou não querem fazer manhãs (p.ex.), temos ainda os colegas que trocam os turnos para ganhar mais algum em horas de qualidade e depois temos os colegas que só trocam mesmo os turnos por necessidade, por incompatibilidade e que acabam por fazer mais trocas porque lhe pedem. O que se passa é que normalmente (e se for bem elaborado), o horário encontra-se equilibrado em termos de tipos de turno, dias seguidos de trabalho, folgas... quem posteriormente troca activamente os turnos altera este equilíbrio a seu favor e quem troca passivamente acaba por ficar com um horário desequilibrado, ou porque acredita que quem troca o faz realmente por necessidade e portanto merece um sacrifício ou porque vai aceitando as trocas até dar conta do resultado final e a verdade é que raramente uma troca beneficia os dois intervenientes. Depois, há os mais variados métodos usados pelos "trocadores activos", que vão desde a mentira até à pressão psicológica/emocional, passando pela chantagem e o "suborno". Há ainda outro aspecto das trocas que merece atenção e que é o mesmo direito de todos a um horário equilibrado, que por vezes é "esquecido" por quem faz o horário e frequentemente pelos "trocadores activos"; todos têm esse direito, independentemente de terem filhos, pais ou animais, independentemente de terem outro emprego ou ocupação, independentemente de serem novos ou velhos, gordos ou magros, solteiros ou casados, homens ou mulheres... Como facilmente se percebe, incluo-me no grupo dos "trocadores passivos", pelo que já perdi folgas porque o colega "precisava muito" e depois reparei que precisava muito para juntar uma folgas e tirar umas "mini-férias", já fiquei sem folga quase 2 semanas porque o colega "precisava de ir à santa terrinha" e afinal descobri que não foi e nunca teve intenções de ir, já fiquei praticamente com "horário fixo" (só manhãs) porque o colega tinha umas coisas importantes para fazer, podia ter dito logo que acumulava noutro sítio, já desmarquei encontros com amigos porque o colega precisava de cuidar de um familiar e afinal o familiar foi cuidado por alguém enquanto o colega foi a uma festa, já ganhei menos trabalhando mais porque o colega não podia fazer aquela noite e o verdadeiro motivo era porque a minha noite era mais rentável (e menos trabalhosa). Assim, decidi restringir ao máximo as minhas trocas para evitar desequilibrar o meu horário. Eu não trabalho em mais que um sítio nem tiro uma especialidade (também) para não perder tempo livre, tempo de qualidade em família, tempo de descanso, por isso, porque hei-de perder esse mesmo tempo de qualidade para que outros colegas possam ganhar mais algum dinheiro? Fico sem o tempo e sem o dinheiro! É certo que o saldo final de horas acaba por ser sempre o mesmo, mas num rápido raciocínio se percebe que o tempo livre é diferente (qualitativamente) conforme os turnos que trabalharmos.

11 novembro, 2009

(Des)ordem



...ser ordenado. Penso que a maioria dos enfermeiros espera mais do Ordem dos Enfermeiros (OE) do que aquilo que ela tem feito até hoje e parte deles não concorda com a sua existência que parece servir apenas para nos cobrar as quotas sem perdoar. Se por um lado também acho que a OE podia fazer mais pela enfermagem e pelos enfermeiros, por outro não pondero sequer a hipótese da sua extinção (e das respectivas quotas). Como se pode ler no Estatuto da Ordem dos Enfermeiros  "A Ordem goza de personalidade jurídica e é independente dos órgãos do Estado, sendo livre e autónoma no âmbito das suas atribuições" - aqui começa a nossa autonomia, os enfermeiros começam a auto-regular-se, tornam-se independentes dos órgãos do Estado. Continuando para (algumas das) suas atribuições:
-"Exercer jurisdição disciplinar sobre os enfermeiros"; assim, temos enfermeiros a avaliar enfermeiros e não somos regulados por outros profissionais.
-"Proteger o título e a profissão de enfermeiro, promovendo procedimento legal contra quem o use ou exerça a profissão ilegalmente"; um poder que a ser correctamente usado, puniria muitos AAM (entre outros profissionais)...
-"Contribuir, através da elaboração de estudos e formulação de propostas, para a definição da política da saúde"; um grande poder... subaproveitado ou não verdadeiramente atribuído;
-"Zelar pela função social, dignidade e prestígio da profissão de enfermeiro, promovendo a valorização profissional e científica dos seus membros"; upsss... aqui a OE falha um bocado (grande);
-"Promover a solidariedade entre os seus membros"; solidariedade entre enfermeiros?! yeah right...
-"Fomentar o desenvolvimento da formação e da investigação em enfermagem, pronunciar-se sobre os modelos de formação e a estrutura geral dos cursos de enfermagem"; quanto à investigação, já me pronunciei sobre o assunto, quanto aos cursos de enfermagem, tenho poucas dúvidas que será a área onde a intervenção da OE recolhe mais criticas.
Assim sendo, a importância da OE revela-se no mesmo sítio que os seus pontos fracos. Apesar de se ter assistido ultimamente a uma OE mais interventiva, mais mediática, espera-se mais, espera-se que usufrutue ao máximo dos seus direitos legais e que estes sejam vistos como deveres perante todos os enfermeiros deste país. Para finalizar, espero que a OE passe esta fase "inicial" onde apenas exerce o seu poder de acção disciplinar sobre os enfermeiros para os fazer cumprir os seus deveres, para se dirigir para uma OE que defenda todos os direitos dos enfermeiros, incluindo a "dignidade e prestígio" da  profissão que se manifesta também nos seus salários, nas suas regalias económicas, apesar de este ser um campo preferencial dos sindicatos (que actualmente parecem estar inertes). Concluindo, espera-se que a OE siga o exemplo de outras Ordens Profissionais mais "maduras" e evolua de uma imagem castigadora, para uma imagem protectora.

08 novembro, 2009

Ad libitum


...optimizar fraldas. Assisti recentemente a (mais) um episódio "daqueles"... Um médico, em plena enfermaria, em frente aos doentes, a ensinar enfermagem a enfermeiros, nomeadamente a explicar como fazer a drenagem postural de um membro, com todos os passos a dar, com as vantagens da técnica, a fisiologia envolvida, etc... e os enfermeiros atentos como se fosse uma grande novidade, uma aprendizagem de algo novo (seria?). Mais caricato ainda é que nesse grupo estavam presentes daqueles enfermeiros que no turno anterior tinham perdido largos minutos a discutir diagnósticos médicos, medicação prescrita e outros assuntos assuntos médicos mais, que para a prestação de cuidados de enfermagem nada importa (como de resto já é costume). Este foi só mais um episódio no meio de outros, que deviam deixar os enfermeiros a reflectir seriamente no assunto. Andam muitos enfermeiros preocupados que os AAM (ou AO) lhes possam usurpar a optimização da fralda e descuram áreas em que devíamos saber mais que ninguém, para que nenhum médico precisasse de ensinar mais enfermagem a enfermeiros. Eu sei que exige mais conhecimentos (científicos) optimizar uma drenagem postural de um membro que uma fralda ou travar/destravar um cadeirão, e se nós não formos capazes de preencher essa lacuna, os médicos estão prontos a isso e depois não se podem queixar de ver prescrições médicas como "aspirar secreções em SOS", "realizar cuidados de higiene à boca", ou "oferecer água"; se nós não soubermos praticar enfermagem alguém nos ensinará. Há um aspecto que temos no entanto de ter em atenção, que são os conhecimentos por trás das técnicas; temos de ter sólidas bases científicas de todas as técnicas que praticarmos, mais que o médico que nos quiser ensinar a praticar enfermagem. Nunca deveria ser o médico a sugerir a instalação de relógios e calendários nas enfermarias para ajudar os doentes na orientação temporal; reflectem os enfermeiros sobre a optimização das fraldas e da lavagem das costas ao "velhinho" em vez de reflectirem na manutenção do ambiente do doente? Até quando vamos deixar que retalhem a enfermagem e levem os pedaços a seu bel-prazer?

05 novembro, 2009

Entesar a Enfermagem


...fugir ás suas competências. A Ordem dos Enfermeiros determina como competência do enfermeiro de cuidados gerais o seguinte: "Valoriza a investigação como contributo para o desenvolvimento da enfermagem e como meio para o aperfeiçoamento dos padrões de cuidados" e ainda "Contribui para o desenvolvimento da prática de enfermagem". Agora eu pergunto, quantos trabalhos de investigação e teses (de mestrado e doutoramento) realmente contribuem significativamente para o desenvolvimento da ciência e da prática de enfermagem? Quantos enfermeiros não desenvolvem teses que roçando ao de leve a enfermagem acabam, por investigar as áreas de psicologia, direito, ética, sociologia,  entre outras? Se é verdade que a prática da enfermagem também engloba estas ciências, não é menos verdade que existem profissionais específicos das referidas áreas a desenvolver essas ciências e devíamos portanto desenvolver mais a ciência de enfermagem, como determina a OE. Sendo que a enfermagem tem um carácter muito prático, penso ainda que a investigação devia trazer melhorias ao nível da prática, devia produzir conhecimentos exclusivos dos enfermeiros, devia contribuir para a individualização e imprescindibilidade da enfermagem e dos enfermeiros, que é algo que tanto estamos a precisar e que é decisivo para a afirmação e a evolução da enfermagem portuguesa. Assim, por favor colegas, dirijam os vossos esforços neste sentido e deixem-se de investigar burnouts, crenças dos enfermeiros e afins... Investiguem aquilo que por serem enfermeiros só vocês podem investigar, só vocês conhecem, que diariamente dão conta que necessitava de ser investigado, de ser melhorado e que traria benefícios aos nossos clientes/utentes. Se não estão dispostos a tal então é melhor fazer como eu e não investir na área da investigação. Não invisto nesta área porque não é dado valor a esse investimento, um investimento pessoal de dinheiro, de tempo, de bastante de nós, que depois ninguém reconhece, que ninguém aproveita, ao contrário do que acontece noutras profissões.