31 dezembro, 2010

2010 -> 2011


...ver aproximar-se o inicio de mais um ano, ou será que esse ano já começou? Se Cristo nasceu no Natal, então aí será o início do ano 0 (d.c.), e não passado 6 dias, não? Há certamente uma boa explicação para isso, mas eu não sei e não me apetece googlar, por isso, se alguém se quiser exprimir, esteja à vontade. Agora, os tradicionais votos de Ano Novo:

Reflitam no ano que passou e tirem conclusões úteis para o ano que aí vem. Apesar das más perspetivas, os enfermeiros têm a vantagem (?) de já estarem habituados a grandes dificuldades. Saibamos usar mesmo o que for mau em nosso favor, saibamos ver as coisas por uma perspectiva mais positiva, saibamos lutar pelo que queremos com persistência e sentido de responsabilidade, saibamos ser felizes e se o desejo de muita gente para o novo ano é o de saúde, aproveitemos o facto de sermos as pessoas mais indicadas para lhes dar (ou vender) isso! Eu próprio vou (infelizmente) fazer isso desde o primeiro minuto.


Boas entradas e bom ano 2011!

24 dezembro, 2010

Boas Festas


...desejar a todos os visitantes deste blog um:

Feliz Natal!!!

Aproveitem ao máximo esta época e guardem um bocadinho do espírito natalício para os restantes dias do ano.

20 dezembro, 2010

Assimetrias


...ser diferente dos iguais. No outro dia, num certo concurso televisivo onde os concorrentes dizem a sua profissão, uma das concorrentes disse ser enfermeira supervisora. Isto fez-me pensar nas assimetrias da nossa profissão... ou será que até já é mais que uma profissão? Temos assimetrias entre os diferentes países, assimetrias dentro do nosso país, entre as instituições de saúde, dentro das mesmas, dentro de cada serviço e dentro das tarefas de cada um. Será sem dúvida uma das profissões mais heterogéneas que conheço. O conceito de enfermeiro em cada país é tão díspar como os seus ordenados, sendo que no nosso país temos dos enfermeiros mais desenvolvidos, com mais conhecimentos e competências, ainda que sejam dos que têm menor visibilidade social e menores ordenados (o que está correlacionado). Os ordenados variam ainda consoante as regiões, sendo que me parece que os enfermeiros são melhor remunerados no centro do que no norte/sul, ainda que desempenhem funções semelhantes (admitindo contudo que haja algumas diferenças). Em zonas iguais, mas instituições diferentes, os enfermeiros desempenham funções diferentes, têm ordenados diferentes e responsabilidades díspares. Dentro da mesma instituição, em serviços diferentes, vemos enfermeiros com a mesma formação, mas com uma enorme diferença no trabalho que desempenham, a nível do esforço físico/mental, das responsabilidades, e isto sem contar com os muitos cargos diferentes que um enfermeiro pode ocupar. Mesmo dentro do mesmo serviço, enfermeiros semelhantes na sua formação, e no seu percurso académico e até profissional, podem desempenhar funções muito diferentes, nomeadamente a nivel de front office/back office. Estas disparidades podem levar a uma desmotivação quando percepcionadas pelos enfermeiros, com as consequentes implicações disso. Parece que "somos todos colegas"... mas é só ás vezes! Para terminar, saliento ainda a heterogeneidade das funções de um enfermeiro, que num momento está a recolher material para uma intervenção que o médico vai realizar, ou a pentear um cabelo, para a seguir fazer reabilitação, ou ensinos/treinos ao doente. Eu acho que actualmente não faz sentido existir um profissional com um leque tão alargado de funções/responsabilidades, uma vez que o futuro aponta para o caminho da especialização/diferenciação e este "profissional faz-tudo" acabará por não fazer nada, uma vez que o seu leque de funções está a ser facilmente retalhado e "roubado" por outros profissionais e a solução passará por uma especialização numa "parte do leque", algo em que sejamos especializados, algo que desempenhemos melhor que ninguém, sendo insubstituíveis; só falta definir o quê... se ainda formos a tempo!...

03 dezembro, 2010

Vencer a resistência do consciente


...conviver todos os dias com as mesmas coisas e por vezes não pensar em todos os significados das mesmas. As coisas e as situações por vezes passam uma espécie de mensagem subliminar que nós nem sempre reparamos. Começo pela farda... porque se usa a farda? "Para fazer a distinção dos profissionais... porque é prático..."; só por isso? Porque é que nalgumas escolas as crianças têm de usar farda? Para não se confundirem com... os professores?! A farda também serve para uniformizar todas as pessoas que a usem. Todos os enfermeiros, usando a farda são uniformizados; a partir do momento em que despem a roupa "da rua" e vestem a farda, perdem a sua individualidade, ficando "todos iguais". Os médicos e outros profissionais que usam bata, não perdem a sua individualidade, usam uma bata (de preferência aberta), mantendo a sua roupa própria que os diferencia, que não lhes retira a sua individualidade. As enfermeiras são incentivadas a nem sequer usarem maquilhagem nem qualquer adorno e manter o cabelo preso, igual em todas, retirando qualquer possibilidade de expressão individual (porque é que "as das batas" fazem quase sempre o oposto?); resta-nos o calçado e as meias, que é usado por alguns da maneira mais criativa possível, como manifestação da sua individualidade e diferenciação dos demais colegas. E a mania dos médicos usarem o estetoscópio (que os identifica) à volta do pescoço? Qual a simbologia, que mensagem transmite? Passa a mensagem que o médico ouve o que mais ninguém consegue ouvir; mas o médico também consegue ver o que mais ninguém consegue ver, pois usa otoscópios e quadros brancos para visualizar radiografias, sendo instrumentos que socialmente também o identificam. Que instrumentos identificam os enfermeiros?  Para terminar, só mais uma reflexão... os doentes usam campainhas para chamar pelos enfermeiros... quem mais é chamado por campainhas? Os empregados, os criados, certo? Muitas mais coisas na nossa profissão são merecedoras de uma reflexão sobre a mensagem que passam, pois nada é feito/decidido ao acaso e existe muita gente ciente da importância desta mensagem subliminar, da simbologia das coisas, da imagem social e que a sabe usar em seu proveito; infelizmente os enfermeiros não estão incluídos neste grupo e só sabem queixar-se posteriormente da falta de reconhecimento social, sem pensar nas causas da mesma. Por vezes devíamos parar um pouco e refletir nos vários significados das coisas, nas mensagens que passamos, ver para além do óbvio e do concreto; a profissão estaria certamente melhor.

18 novembro, 2010

A doença do hospital de Viana do Castelo


...dar a voz aos nossos clientes. Publico a pedido da autora o seguinte:


"A DOENÇA DO HOSPITAL DE VIANA DO CASTELO (ULSAM)
ANTÓNIO MARTINS PARADELA JÚNIOR, meu pai está novamente internado na cama 21, piso 4, cirurgia 1. Este internamento, foi decidido, após uma espera de 26 horas nos corredores da URGÊNCIA, chamado na ULSAM de VIANA DO CASTELO,  de OBS - MACAS, com horas de visitas marcadas, como se estivesse o doente num OBS. Um corredor de loucos !
Os maqueiros batem com as camas nas macas por falta de espaço, auxiliares que gritam de um lado para o outro, parece que estão no 'Campo d' Ágonia', os enfermeiros correm de um lado para o outro porque não são suficientes, os médicos saem da urgência para o bloco e o doente fica sem saber nada sobre o seu diagnóstico, porque só pode ser dito pelo médico que o acompanha e o mesmo está no bloco. Um TAC mandado fazer às 9h45m, só é informado à família o resultado, às 21h30m.
Meu pai entrou na urgência no dia 7 de Outubro de 2010, às 21h45m, e subiu para internamento, no dia 8 de Outubro de 2010, às 23h50m. Com 87 anos, não é permitido acompanhante, porque está em OBS - MACAS, no corredor de um manicómio, onde todos gritam e ralham, e ninguém tem razão.
Sra. Ministra Ana Jorge, permita-me que lhe faça um convite especial. Venha passar 26 horas em OBS - MACAS, nos corredores da Urgência do ULSAM de Viana do Castelo. Ofereço-lhe a MACA I, do Sr. António Martins Paredela Júnior, meu pai, a quem AMO muito, como com certeza a Sra. Ministra, ama o seu. Venha sentir na própria pele o desespero da espera, da solidão, do afastamento da família junto com a doença, a razão pela qual nos leva a ficar nesse corredor o tempo que nos obrigam.
Por onde anda a Sra. Ministra Ana Jorge ? Em 3 meses é a terceira vez que exponho neste livro o meu descontentamento (14/10/2010), e nunca obtive resposta do seu gabinete. Isto só prova que a saúde também está muito mal no seu ministério. Venha para a rua, venha para os hospitais. O que os olhos não vêem, o coração não sente !
Os utentes, que também são contribuintes é que sofrem com a má gestão feita dos dinheiros públicos. E agora só se ouve falar em 'CONTENÇÃO'. 'ABUNDÂNCIA PARA OS MAIS FAVORECIDOS, CONTENÇÃO PARA OS MAIS NECESSITADOS'.
É isto que a Sra. Ministra tem para nos dar !
É este o País que temos !
Espero que a Sra. Ministra esteja bem de saúde e se lembre da saúde dos outros. Onde estão os direitos dos doentes ?. Será que os mesmos só têm deveres ?. A Sra. Ministra, sabe quais são os seus deveres ?, ou só sabe os seus direitos ?.
O HOSPITAL DISTRITAL DE VIANA DO CASTELO, hoje, ULSAM, foi construído para prestar cuidados de saúde cinco estrelas, só que, quatro já caíram e a quinta está balançando.
Isto é um exemplo da saúde da Urgência do ULSAM de Viana do Castelo, com certeza o câncer já tem ramificações suficientes para infectar muitos utentes que por ali passam. É caso para dizer, pensem, antes de ficar doentes !.
LÚCIA FRANCISCA PARADELA
Rua do Calvário Nº 89
Vila Mou - Viana do Castelo
Estrada da Papanata Nº 73 - 1º Esq.
Viana do Castelo
Contribuinte - 124572650"

Parece que não são só os enfermeiros a ver que a saúde em Portugal está doente, neste modelo de saúde centrado nos médicos, onde se valoriza a doença e não a saúde, neste modelo onde os enfermeiros se deixam enrolar não remando contra a maré, não defendendo os seus interesses e os seus clientes. Os resultados estão à vista...

12 novembro, 2010

Portugal vs Brasil



...comparar a situação da enfermagem em Portugal e no Brasil. Ciente das visitas regulares por colegas brasileiros, gostei de conversar com uma colega brasileira (já aposentada) sobre a realidade da enfermagem brasileira. Temos pontos em comum, que já sabia dos comentários ocasionais aqui no blog, mas também temos pontos divergentes. Em comum, saliento  a progressiva perda de visibilidade (social) e desvalorização do enfermeiro no panorama da saúde, a investigação em áreas que não são a enfermagem, investigam-se os enfermeiros mas não a enfermagem. Como maiores diferenças, é de salientar que fiquei com a ideia que os colegas brasileiros dão mais valor à sua saúde, física e mental, procurando não trabalhar muito tempo em regime de roulement, por exemplo, a realidade do desemprego na enfermagem, que me parece ser mais preocupante em Portugal, apesar do Brasil estar a caminhar nesse sentido,  ainda a existência das auxiliares de enfermagem, que em breve surgirão por cá e julgo ainda existirem os técnicos de enfermagem; por fim, no Brasil os enfermeiros não são regulados por uma ordem profissional, desconheço quem faz esta regulação. Se os colegas acharem que estou enganado ou quiserem acrescentar alguma coisa, sintam-se à vontade para deixar os vossos comentários.

05 novembro, 2010

O fim?


...vivenciar diariamente a morte. Acompanhamos o doente desde a sua admissão, durante o seu internamento até à sua saída, criando ligações, profissionais, mas por vezes também afectivas, estabelecemos uma relação empática. Assistimos por vezes impotentemente ao declinar da saúde e das forças, recebendo confissões, queixas e pedidos dolorosos de ouvir. Estamos com o doente nos momentos finais e temos de informar os familiares e ajudá-los a iniciar o processo de luto, o que pessoalmente considero ser o mais dificil. É muito dificil, por vezes impossivel mesmo não sentir simpatia (sim+pathos) para com os familiares; ainda que digamos para nós mesmos que o doente não era nosso familiar, nem nosso amigo, o grau de sofrimento normalmente manifestado pelos familiares (por vezes presentes no momento) afecta-nos profundamente, mesmo procurando escapatórias (que talvez não sejam as mais eficazes) como a indiferença, pela qual ás vezes somos criticados, por quem desconhece a complexidade do processo. Cada vez mais as implicações destas situações nos profissionais de saúde são alvo de estudos, mas continuam desvalorizadas e os seus efeitos podem ser muito nefastos para o profissional que sem acompanhamento, sem ajuda é sujeito a elevados níveis de stress e de forma cumulativa pode levar a situações como o síndrome de burnout. São complicações que afetam a pessoa não só na sua vida profissional, mas também na sua vida pessoal, afetam os seus familiares e amigos mais próximos. Infelizmente, ninguém cuida de quem cuida.

24 outubro, 2010

Adiável mas inevitável


...assistir à chegada dos "auxiliares de enfermagem" ou como lhe querem chamar "técnico auxiliar de saúde". Como eu já esperava, aconteceu o inevitável, e foi publicada a Portaria 1041/2010 que leva à criação destes técnicos. Lendo as funções designadas, à partida, estas pouco ou nada acrescentam ás atuais funções das assistentes operacionais (AO), com a diferença de terem formação específica para as funções a desempenhar e terem funções legalmente definidas, o que nem sempre acontecia com as AO. O enfermeiro deve cuidar do doente, da pessoa com uma doença (nunca podemos negligenciar esta condição). Não se focalizando na doença, que será do domínio médico, o enfermeiro é responsável por assegurar a satisfação das necessidades humanas básicas do doente enquanto este se encontra numa instituição de saúde, atendendo ás limitações impostas pela doença e pela institucionalização, mas é também responsável pela preparação do doente para a sua vida após a alta, com as novas condições impostas pela doença. O enfermeiro deve atuar não enquanto ser humano (com as limitações impostas enquanto tal), mas enquanto profissional de saúde, com o poder, o conhecimento e as competências para ajudar a pessoa doente. Atenção que o facto de ser responsável pela satisfação das necessidades, não significa que tenha de ser ele a executar todas as tarefas, muitas delas podem ser delegadas, sobretudo se tivermos pessoas com um mínimo de formação a quem as possamos delegar. Aos enfermeiros que dizem que vão ficar com pouco trabalho, eu respondo "se quiserem"... Se o enfermeiro fica mais liberto daquelas tarefas rotineiras, que pouco exigem de si enquanto profissional diferenciado que é, tem de aproveitar o tempo que ganha, para estar de facto com os doentes, analisando toda a situação do mesmo com o tempo necessário, todos os problemas, e encetar as medidas necessárias para os ultrapassar ou minimizar, sendo que poderá gastar mais tempo com um doente independente nas AVD's mas com outras necessidades por resolver do que com um doente totalmente nas AVD's, mas que pouco requer na verdade do enfermeiro, o que atualmente só pode acontecer teoricamente. Os doentes começarão a sentir que o enfermeiro está de facto ao seu lado quando necessita dele e não quando este quer/pode (dadas as rotinas impostas) e a imagem social do enfermeiro começará a ser valorizada, com todas as vantagens que daí advêm. Por outro lado, o enfermeiro fica com mais tempo para investir na formação, na sua, na do doente e familiares/cuidadores, devendo ainda aumentar a sua autonomia nas tarefas que desempenha, ou seja, reduzir as intervenções dependentes/interdependentes ao máximo de modo a poder prestar cuidados de modo mais eficaz e eficiente. Espero (embora não acredite muito) que a enfermagem portuguesa saiba aproveitar este impulso, esta indicação do caminho certo a tomar e consiga tornar o enfermeiro num profissional indispensável, coisa que como facilmente se percebe não acontece atualmente.

18 outubro, 2010

Realidade Virtual


...ficar seriamente irritado. Fico mesmo com os nervos em franja com aqueles profissionais com quem (infelizmente) temos de lidar diariamente no trabalho que estão completamente alheados da realidade, sobretudo quando também são enfermeiros e que exercem funções dispensáveis, cargos criados para aqueles que ficaram sem nada que fazer quando extinguiram os anteriores cargos por serem dispensáveis (um ciclo viciosa à "tuga"). São aqueles indivíduos que vivem num outro mundo, numa realidade perfeita mas inexistente, penso que não seja por não conhecerem a verdadeira realidade, mas porque não a querem conhecer e porque não têm de a conhecer, já que ocupam sempre umas funções (leia-se "tachos") onde trabalhando (termo figurado) fisicamente distante acabam por não saber as condições de trabalho, as limitações e os sacrifícios de quem realmente trabalha e com o maior dos moralismos mandam palpites e tecem criticas sobre o nosso trabalho, como se tivéssemos o mesmo tempo e as mesmas condições que eles. Quando isso acontece, no mínimo tenho vontade de os obrigar a calçar umas luvas e fazerem tudo o que ainda está por fazer enquanto eu vou comer qualquer coisa, já que não entra nada no meu estômago há largas horas; depois de terem tudo feito, gostava de saber se ainda continuam a achar que "seria melhor fazer isto ou aquilo"; quando o tempo mal chega para o essencial, o que fazer a quem sugere que devíamos investir mais em coisas de menor importância? Já que aparentemente no nosso miserável país não se pode viver sem os "jobs for the boys", pelo menos devia-se envolver os "boys" no verdadeiro trabalho, criando interacções com todos os profissionais que lhes permitissem ter uma noção no mínimo aproximada da realidade; se nem isto for possível, então, pelo menos, que fiquem no seu canto ideal e não venham incomodar quem já trabalha mais do que o que é aparentemente possível.

09 outubro, 2010

Teoria da evolução


...resistir à evolução natural das coisas. A informática está a invadir tudo, incluindo a saúde e como sempre, os enfermeiros são um ponto de resistência à inovação. Na enfermagem, a informática ainda faz pouco mais que substituir o papel pelo "digital" e mesmo assim a implementação é difícil. Parece uma anedota, mas teima-se em passar do registo em papel para o registo digital (até agora tudo bem) e depois... imprimir uma cópia (em papel) dos registos digitais! Mais uma vez, seguindo minha a "mania", pergunto, para quê? Como seria de esperar, as respostas são tão descabidas (para não lhes chamar outra coisa) como o ato em si. Questionam o valor legal da assinatura digital, quando este está decretado desde 1999 no Decreto-Lei n.º 290-D/99, sendo recentemente confirmado pelo Decreto-Lei n.º 62/2003. Falam do risco de perda de informação digital; mesmo sem saber a qualidade do sistema informático do ministério da saúde, sei que é muito difícil perder informação digital, quase de certeza guardada em mais que um servidor, de certeza absoluta mais difícil de perder do que uns papéis mal presos a uma capa velha que corre o hospital e por vezes o exterior deste, por várias mãos; qual a facilidade dos papéis se perderem? Enquanto os papéis podem voar, arder, dissolver-se em água e sei lá que mais fragilidades, os registos digitais dificilmente se perdem ou adulteram, dada a sua extrema fiabilidade (qual a probabilidade de uma catástrofe eletromagnética?). E qual o valor de uma impressão não autenticada, não assinada, não carimbada ou coisa que o valha? Um papel que eu posso muito facilmente copiar e adulterar num programa tão simples como um editor de texto. Quando os frágeis argumentos são rebatidos, resta a habitual afirmação "lá estás tu a ser do contra", quando eu até estou a favor (da evolução tecnológica). Porque insistem os enfermeiros em contrariar a mudança, a evolução, em vez de a usarem para tirarem proveito dela? Damn it! Assim não "saímos da cepa torta"...

27 setembro, 2010

Insight


...vivenciar inesperadamente episódios de introspecção. Depois de uns dias de calma, paz e felicidade aproveitados até ao último minuto, arrumo as coisas todas dentro do carro numa correria interrompida por um agricultor desconhecido que passava e na sua calma pergunta: "Já de partida? pois, é preciso começar a trabalhar não é?" Eu respondi afirmativamente enquanto acabei de arrumar as coisas com mais calma, vendo-o desaparecer como apareceu, a pensar na pergunta e na resposta, pensamento que se prolongou pela viagem, que ainda foi longa. Seria mais feliz o agricultor que na sua calma seguia calmamente para o seu trabalho, não porque "tinha de ser", mas porque "podia ser" ou eu na minha correria para trabalhar porque "tinha de ser" apesar de talvez "não poder ser"? Será o trabalho uma parte assim tão importante da nossa vida que se possa sobrepor à família, aos amigos, à saúde (física e mental), à felicidade? Quanto vale a possibilidade de se trabalhar em contacto directo com a natureza, combinando o ritmo desta com o nosso, aproveitando o que ela nos oferece e tentado oferecer-lhe também alguma coisa? Lucrar com o nosso trabalho e não deixar que alguém lucre com ele enquanto nos explora... São opções de vida ou uma questão de oportunidades? Mas quem é que mandou o raio do agricultor com as suas palavras tão simples quanto abaladoras?

18 setembro, 2010

Falta de...


...estar a chegar ao fim de mais umas férias e já a pensar nas próximas. É ao contatar mais com pessoas de outros países que se torna evidente a pobreza do povo português, não (só) a económica, mas a pobreza educacional, a falta de valores (ou os valores incorrectos), a falta de moral, falta de visão, falta de princípios básicos, de sonhos, de respeito pelas pessoas e pelas coisas, por eles próprios, de tanta coisa... não tenho aquele sentimento de patriotismo, mas com pessoas assim, não me sinto culpado por isso. Não é só na enfermagem que existem (muitas) pessoas assim, mas é um problema nacional generalizado e um problema maior ainda é o facto do futuro já estar condenado à partida, pois quem no presente construirá o futuro já está "contaminado" por esta pobreza e assim não sei quando conseguiremos sair do fosso. Existem claro excepções... uns fogem (leia-se emigram), outros ficam por cá e agregam-se em empresas que são uma excepção ás restantes, aquelas empresas que transformam as crises (que levam as outras à falência) em oportunidades para continuar a crescer, ignorando as críticas invejosas dos que queriam os mesmos resultados sem o mesmo trabalho, o mesmo esforço, a mesma visão e inteligência. Existem ainda outros dispersos que não se chegam a agregar, por falta de oportunidade talvez. Mas chega de falar mal dos "tugas", noutra oportunidade falarei mais. Boas férias para quem ainda vai, que por mim é tempo de voltar ao trabalho, com as energias recuperadas, com o bom humor e a paciência de volta, mas com o espírito critico e "aquele borbulhar cá dentro" em alta.

"Há uma força motriz mais poderosa que o vapor, a eletricidade e a energia atómica: a vontade." (Albert Einstein)

01 setembro, 2010

Férias!


...finalmente gozar as merecidas e desejadas férias. Apesar de quase toda a gente já ter gozado as suas "férias grandes" eu só vou agora, não me deixando demover pelos meios de comunicação social que me invadem constantemente com a mensagem que "as férias já acabaram", ou "o verão chegou ao fim", "de volta ao trabalho"... é triste, mas os enfermeiros não podem gozar (todos) férias em Agosto como as outras pessoas (maioria), mesmo que queiram. É só mais uma desvantagem de ser enfermeiro, mais uma daquelas desvantagens inerentes à profissão mas negligenciada. Espero conseguir recuperar do cansaço... físico e psicológico, restaurar energias, a paciência, a tolerância e bom humor. Boas férias para quem como eu ainda vai de férias e bom trabalho para quem já foi.
Até ao meu regresso!...

23 agosto, 2010

Tinóni...


...ter a noção que os portugueses são muito (demasiado) activos/intervenientes em situações de emergência.  Em caso de acidente os portugueses não param só para ver, também gostam de ajudar, muitas das vezes acaba por ser uma ajuda nefasta, mas isso é outra história. Mesmo em coisas simples como para deixar passar um veiculo prioritário, são capazes de abalroar o que (ou quem) seja para facilitar a passagem, mesmo que seja de um jovem que caiu e partiu um dedo (mas os bombeiros gostam de ligar a sirene), situação que pelo que sei não acontece em países como a França, onde as pessoas por norma não facilitam mesmo nada. Outro exemplo é o elevado número de bombeiros voluntários que temos no nosso país, onde pela possibilidade de praticar atos (ou actos para quem não está "acordado") heróicos  (que por vezes não passam de salvar uma floresta ou uma mata das chamas) arriscam a própria vida. Como último exemplo deixo a ânsia em criar os TEPH/TEM enquanto profissionais/heróis da EMERGÊNCIA pré-hospitalar e SÓ disso, especializados (tanto quanto um técnico pode ser) em emergência no ser humano (sobre o qual pouco percebem). Se uma situação estiver rotulada como emergência, são capazes de fazer o que for preciso, ainda que logo a seguir o altruísmo seja esquecido em situações onde a sua intervenção seria muito mais eficaz e necessária. Tenho esta noção, e gostava de saber se quem trabalha em Emergência Pré-Hospitalar partilha da mesma.

05 agosto, 2010

Todos diferentes todos iguais


...ser menor do que os iguais. Os humanos são todos iguais na sua essência, basicamente com as mesmas fraquezas, os mesmos receios, a mesma composição. Existe no entanto muita gente que não pensa nisso e se acha maior que uma microscópica poeira no meio do infinito Universo, mas não o são e esta visão egocêntrica não manifesta mais do que a ignorância dos mesmos, relativamente ao que são e ao que os rodeia. São pessoas que, talvez tentando disfarçar a sua fraqueza interior se aproveitam do seu estatuto por exemplo nos locais de trabalho e exercem opressão sobre os que lhe são hierarquicamente inferiores, abusam do poder e fazem ameaças, desconhecem as regras da boa educação e viram as costas deixando as pessoas a falar sozinhas; e quando saírem para o exterior e tirarem aquela máscara? Será que também vão ter coragem de virar as costas sabendo que no mundo exterior já não são mais fortes? Quando se virem numa situação de crise, acidental ou intencionalmente criada, também viram a cara aos que eram mais fracos mas nesta situação são mais fortes? Se calhar deviam pensar nisto, pois nunca sabemos o que o destino nos reserva e quem o pode moldar de variadas formas, mesmo aqueles que pensamos ser mais fracos e a quem viramos as costas ignorando o risco de sermos "apunhalados pelas costas".

29 julho, 2010

Teoria económica


...criar teorias sobre algo sobre o qual nem se percebe muito. Apesar dos meus parcos conhecimentos em economia, num daqueles momentos de reflexão, surgiu-me uma teoria sobre a actual crise económica. Teorizo assim que a origem da crise económica mundial, antes de petróleos, de flutuações de moeda, crises imobiliárias, créditos, hipotecas e não sei que mais explicações está em algo mais básico e ao mesmo tempo mais difícil de mudar. Porque temos nós de trabalhar (e para isso nos pagam)? Para produzirmos os produtos, bens e serviços que precisamos; com a evolução tecnológica, é preciso cada vez menos trabalho humano para a necessária produção dos mesmos, o que significa que as pessoas deviam trabalhar cada vez menos, sendo que se passa o inverso, com as pessoas a trabalhar cada vez mais horas diariamente e durante mais anos (antes de se reformarem), o que leva a um inevitável aumento do desemprego, que a meu ver não é mau (se se mantiver a necessária produção); assim, sendo que o cada vez menor trabalho não é distribuído por todos, quem ficar com ele vai dividir o dinheiro que ganha com aqueles que não trabalham, daí a imagem negativa do desemprego que seria inexistente se o trabalho necessário fosse melhor distribuído. Por outro lado, os vendedores dos produtos, bens ou serviços, mantendo o preço de venda e baixando o custo de produção por precisarem de menos mão-de-obra vão ficando cada vez mais ricos, levando a que o fosso entre estes (ricos) e os trabalhadores e os desempregados (pobres) aumente. Julgo então que enquanto não for feito nada para mudar o funcionamento básico deste ciclo económico, as crises por uma razão ou por outra vão ser inevitáveis. A menos que alguém com mais conhecimentos em economia que eu detectar alguma falácia na minha teoria, vou continuar a acreditar nela; se esta teoria não é inovadora, lamento mas não me dei ao trabalho de pesquisar isso. Quanto à enfermagem, de uma coisa tenho a certeza, cada vez será preciso menos mão-de-obra, desengane-se quem pensa o contrário.

12 julho, 2010

Escala de valores


...avaliar e ser avaliado. Começou desde que entrei para a escola, quando comecei a ser avaliado e não terminou agora que já o não sou (por enquanto), tendo apenas mudado de lado, passando de avaliado a (potencial) avaliador. Desde então sempre me meteu confusão o uso que os avaliadores fazem da escala de avaliação que teoricamente vai de 0 a 20 (por exemplo), mas que depois é restringida até 17 ou 18 valores porque "o 20 é para Deus, o 19 para o avaliador e o 18 para o aluno ou nem isso"; ou então "para ter 20 tem de ser excelente em tudo e isso é impossível". Esta é mais uma daquelas "faltas de visão" que realmente me irrita e me leva a discutir com as pessoas, em discussões perdidas porque as pessoas não admitem que estão erradas, ainda que "contra factos não haja argumentos" e sempre me levaram a perguntar porque querem os avaliadores ficar "com as notas para eles". Se a escala é de 0 a 20, isso significa que desde o 0 até ao 20, todos os valores são para o aluno, sem qualquer margem para dúvidas ou discussões possíveis. Por outro lado, para "ter 20" não é preciso ser excelente em tudo e melhor até que o avaliador (ainda que tal não seja impossível); numa avaliação, existem objectivos a atingir pelo avaliado e se estes forem atingidos na plenitude a única avaliação possível será a máxima (20), podendo até o avaliado ser péssimo nalgum aspecto que o avaliador ache importante, mas que não influencia nenhum dos parâmetros a ser avaliado. Assim, para mim, a escala de avaliação será sempre usada em toda a sua extensão e não tenho nenhuma objecção em atribuir a nota máxima ao avaliado que atinja a plenitude doa objectivos e a nota mínima àquele que não os atinja minimamente. Para terminar, recordo só "a teoria" de um professor meu durante o curso de enfermagem que não atribuía mais que 14 aos seus alunos pois essa era a sua a média final de curso (de medicina) e não havia nenhum aluno melhor que ele; se agora até dá alguma vontade de rir, na altura não sei o que faria se concedesse livre arbítrio à minha vontade.

03 julho, 2010

GAP


...querer inovar. Surgiu-me esta ideia fruto da necessidade. E se... criassem em todos os locais de atendimento ao público (inclusivamente instituições de saúde) um Gabinete de Atendimento à Pessoa? Enquanto cliente, perco várias vezes a paciência (que até há quem diga ser de santo) quando estou numa fila à espera de ser atendido, por vezes com pressa e a pessoa (normalmente reformada) à minha frente decide estabelecer um diálogo com o funcionário para desabafar, para passar algum tempo (que certamente tem de sobra) sem querer saber de quem continua à espera de ser atendido. Ciente da importância que estes diálogos poderão ter para muitas pessoas, mas também do facto de haver outras pessoas à espera e do funcionário não estar lá para "isso", sugiro então a criação de um gabinete onde essas pessoas que precisam de desabafar coisas da sua vida sejam encaminhadas e onde está alguém designado para o efeito. Enquanto profissional, seria também muito útil para poder trabalhar sem ser interrompido (normalmente pelas visitas) evitando quebras de pensamento e de actividades, com consequências que podem ser mais ou menos graves. Já sei que haverá quem não concorde com isto, pela importância que tem o contacto com as visitas, com os familiares, mas eu não quero retirar tal importância, distingo é os contactos realmente importantes para os meus cuidados daqueles que não têm qualquer importância, sobretudo quando isso rouba tempo aos cuidados que os doentes realmente necessitam. Fica a sugestão, quem sabe um dia...

17 junho, 2010

Chefes auxiliares


...ser avaliado... por auxiliares de enfermagem/assistentes operacionais (AO). Esta não é a primeira vez que falo das AO e como já referi não concordo com a sua existência. A grande maioria dos chefes que "tenho apanhado" estabelece uma relação (a meu ver) estranha com as AO; as AO são os "radares do chefe" (expressão de um anterior chefe) que observam e avaliam os enfermeiros, para depois relatar ao chefe. Esta inversão não me cabe na cabeça e pergunto-me como é possível que uma AO avalie o desempenho de um enfermeiro, se não tem qualquer formação em enfermagem. Os tais chefes obviamente não admitem directamente isto e as AO regozijam-se com o "estatuto" que lhes é atribuído e com a protecção que os chefes obviamente passam a dar aos seus "radares/espiões". Noto ainda que tendem a vê-las como "coitadinhas", feitas de empregadas ou escravas pelos mauzões dos enfermeiros, acredito que esta visão venha de tempos antigos em que os referidos chefes estavam na prestação directa de cuidados e elas seriam assim tratadas. Pergunto-me se eu tenho tido azar com os chefes/AO ou se esta situação é geral.

08 junho, 2010

Como? Porquê?


...preocupar-se demais com o "como" (advérbio) e de menos com o "porquê". A grande maioria dos enfermeiros (que eu conheço) preocupa-se em saber como executar as técnicas, mas atrapalham-se todos quando lhes é questionado o porquê de as executar, uma vez que o fazem "porque sim... porque me ensinaram assim... porque os outros também fazem". Nós não somos meros técnicos de saúde a quem só importa a técnica. Podíamos formar facilmente qualquer pessoa para executar as técnicas, como aliás fazemos aquando dos ensinos aos cuidadores, sendo que o que nos distingue é o conhecimento por trás das técnicas, o referido "porquê" e só este conhecimento nos pode trazer a autonomia na nossa prática; se soubermos porque estamos a fazer isto ou aquilo e porque o fazemos dessa forma e não de outra, se actuarmos de forma fundamentada, ninguém nos conseguirá descredibilizar. Um bem haja aos enfermeiros que incutem nos potenciais futuros colegas este espírito critico, esta capacidade reflexiva, este "thinking outside the box", para que no futuro da enfermagem o nosso valor enquanto profissionais licenciados não seja questionado e não tenha de ser exigido com greves.

23 abril, 2010

Profissão mais antiga do mundo


...praticar diversas formas de prostituição. Não, não venho falar da famosa história das alunas de enfermagem (nesta altura já enfermeiras?) que eram/são simultaneamente "acompanhantes de luxo". Vou falar de outros tipos de prostituição, com outros tipos de recompensas. Falo de enfermeiros que se prostituem a si e prostituem toda a enfermagem a troco de um favor do sr. doutor, de um reconhecimento dos seus superiores ou de trabalho de outros. São os enfermeiros que servem de empregados aos srs. doutores porque precisam de um favor para si ou para um familiar, e então lhe atendem o telemóvel, lhe buscam um café ou o que o sr. doutor precisar (cada um com distintos limites); são os enfermeiros que fazem de tudo para agradar aos seus chefes e caírem nas suas boas graças, são os enfermeiros que se sujeitam a executar tarefas que não são suas para que as assistentes operativas façam o trabalho que seria deles. Mas ainda mais grave que estas formas de  "auto-prostituição" (ainda que prostituam toda a classe) são os casos dos enfermeiros que usam os seus colegas com quem trabalham; estou-me a referir por exemplo aos enfermeiros-chefe que prostituem os enfermeiros do seu serviço a troco de uma promoção/nomeação ou ainda a troco de umas horas de empregada doméstica (leia-se assistentes operativas) gratuita em sua casa, sendo que neste caso a prostituição é também das assistentes operativas. Há quem lhe chame "banco de favores", mas eu chamo-lhe mesmo prostituição, uma vez que esta num sentido mais lato e figurado também pode ser vista como um banco ou uma troca de "favores". Colegas, prostituam-se à vontade, mas deixem-me fora disso que eu não me importo de continuar com "saldo zero" no "banco de favores" e envergonhem-se de vender ao desbarato a enfermagem!

03 abril, 2010

Saudação Pascal


...ser teísta. Por ser Páscoa, achei que devia falar sobre mais uma das coisas que observo e tento analisar/reflectir e que poderão ter alguma relevância na prática dos enfermeiros - ateísmo. Parece-me a mim que o ateísmo é mais uma espécie de "moda", de fuga à maioria, uma afirmação de diferença e superioridade de pensamento/raciocínio  em relação à "maioria" e que acaba por ser chic, salvo algumas excepções (poucas, julgo eu). Não concordo é que os teístas sejam apelidados de "crentes", pois penso que seja necessária uma maior fé/crença para acreditar que o universo na sua complexa perfeição surgiu e evoluiu unicamente através de "fenómenos naturais" do que acreditar que houve algures uma intervenção divina e que nem tudo tem uma explicação racional. Sendo que acredito na existência de uma entidade superior/divina/sobrenatural a que chamo Deus, cito Max Planck: "Para os que acreditam, Deus está no princípio. Para os cientistas, Deus está no final de todas as suas reflexões. O impulso de nosso conhecimento exige que se relacione a ordem do universo com Deus." Assim, para todos os crentes, os menos crentes e os descrentes, uma BOA PÁSCOA. Que seja melhor que a minha, que vai ser passada com a família... dos outros (dos doentes), a trabalhar, porque se assim não for, nem os míseros €1020 me pagam.

27 março, 2010

Cipes, sapes e cepos


...cipar. Mais uma vez queremos ser inovadores mas nem conseguimos aprender com os erros dos outros. Não querendo discutir os prós e os contras da CIPE (Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem), que (quase) todos já devemos ter ouvido, pergunto só porque insistem os enfermeiros em criar uma linguagem comum à enfermagem mundial, em vez de apostarem numa linguagem científica que seja comum a todos os profissionais da equipa de saúde, com quem interagimos, de acordo com a Língua nacional, para não andarmos com "rigorosas" traduções da "linguagem comum à enfermagem" para ficarmos com termos que em português correcto/corrente são ridículos. De que adianta falar se ninguém nos entende? Para piorar o cenário, decidiram, criar o SAPE (Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem), visando a informatização dos registos de enfermagem com base no cipês (deviam dar formação aos enfermeiros sobre esta nova "Língua" estranha). Para além de se basear em, algo mau à partida, foi um programa mal desenvolvido com erros grosseiros.  Quem trabalha/trabalhou com o mesmo, sabe do que vou falar, como seja o mau interface do programa, que demonstra um total desconhecimento de HCI (Human–computer interaction) por parte de quem o desenvolveu. Os cuidados de enfermagem são tratados com sendo estanques, absolutamente padronizados e não como individualizados para cada doente. Outro exemplo são (a meu ver) as intervenções "vigiar" - pergunto eu se o enfermeiro não vigia tudo nos doentes, e assim teria de seleccionar todas estas intervenções. Penso que os cuidados de enfermagem são demasiado complexos para poderem ser padronizados desta forma, "tabelados", inseridos numa espécie de totoloto, de escolha múltipla. Podia expor muitos exemplos mais específicos das deficiências e dos erros, mas deixo isso para os comentários de quem também lida diariamente com o programa. Concordo com a informatização dos registos de enfermagem e admito que traz muitas vantagens, sobretudo a nível de outputs, mas não assim, como se tivesse sido desenvolvido por cepos.

25 março, 2010

1º Encontro de Enfermagem da Unidade de Saúde Setentrional


...divulgar a pedido da comissão organizadora, o 1º Encontro de Enfermagem da Unidade de Saúde Setentrional, subordinado ao tema “Cuidar no Século XXI”, que vai decorrer na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, nos dias 22, 23 e 24 de Abril de 2010.
Este Encontro, tem como objectivos dar a conhecer o trabalho desenvolvido na Unidade de Saúde Setentrional, na área da Enfermagem, e contará com a participação de enfermeiros do CHLN (Hospital de Santa Maria e Hospital Pulido Valente) e dos Centros de Saúde da sua área de referência (Alvalade, Benfica, Loures, Lumiar, Odivelas e Pontinha).
Neste encontro serão debatidos temas da actualidade, nomeadamente:
• A Enfermagem na Unidade de Saúde Setentrional
• Uma sociedade multicultural: novas realidades, novas práticas
• Perspectivar os cuidados com base nas vivências dos doentes/famílias
• Quem cuida de nós
• Reflectindo sobre a prática
• Gestão da doença crónica
• Continuidade no cuidar
• Da Informação à Comunicação
E, serão também ministrados os seguintes cursos:
• Básico de Suporte de Vida/DAE
• Avaliação e Tratamento de Úlcera de Perna
• Ventilação Não Invasiva
• Auto-desenvolvimento
As inscrições para este encontro deverão ser feitas, preferencialmente online, no seguinte endereço: www.inscricoesencontrouss.com

12 março, 2010

Oferece-se trabalho


...trabalhar gratuitamente. Estou-me a referir aqueles colegas que teimam em chegar ao serviço antes da hora certa (a partir da qual são remunerados) para "começarem a preparar" o turno, ou seja, para trabalharem mais tempo do que aquele que lhes é pago. O pior ainda é que os ditos colegas acabam por estorvar os colegas que estão a finalizar o turno e se tentam despachar para terminar os assuntos pendentes. Sinceramente estes colegas são quase tão irritantes como aqueles que acabam por ficar no serviço 1 ou 2 horas depois do seu turno ter acabado, a ver os colegas a trabalharem... é caso para dizer "get a life!"

01 março, 2010

Tempo é dinheiro



...subvalorizar-se. Daquilo que eu constato no meu dia-a-dia, os enfermeiros tendem a dar pouco valor ao seu tempo e ao seu trabalho e se nós não dermos valor, quem dará? Um exemplo daquilo a que eu me estou a referir é a disponibilidade exagerada dos enfermeiros para tudo e mais alguma coisa. Observo com frequência um colega estar ocupado com qualquer tarefa e deixar o que está a fazer para ir falar com um familiar de um doente que está ao telefone, ou para ir ajudar o médico a fazer alguma coisa (não urgente). O que quem está do outro lado pensa é que ou o enfermeiro não estava a fazer nada, ou estava a fazer algo sem importância. Pergunto-me é se quem está deste lado (os próprios enfermeiros) pensarão o mesmo, o que seria a meu ver, grave. Outro exemplo é a disponibilidade dos enfermeiros aquando do planeamento de alguma actividade como ensinos ao cuidador. O cuidador é quem costuma marcar o dia e a hora e o enfermeiro está sempre disponível, adaptando todo o seu trabalho posteriormente; mais uma vez, será que o enfermeiro costuma estar sempre sem fazer nada? Há uns dias atrás fui a uma consulta médica privada, paga a peso de ouro como costume, e mesmo assim tive de esperar uns dias pela mesma e no dia, ainda tive de esperar uns largos minutos para ser atendido (depois da hora previamente marcada). Como já disse anteriormente, não basta fazer as coisas, é preciso mostrar que fazemos as coisas e que as fazemos bem, que temos muitas tarefas, muita responsabilidade, e consequentemente muito valor; assim não precisávamos de greves e manifestações para o demonstrar.

21 fevereiro, 2010

Momento musical


...ser "banhista". Serve o seguinte post para opinar sobre a importância dos banhos ou dos "cuidados de higiene e conforto", que tanta é para alguns enfermeiros. Para muitos, o banho é um importante momento para fazer tudo e mais alguma coisa... mas o enfermeiro não está 24 horas com o doente? Para mim há cuidados de higiene susceptíveis de serem executados obrigatoriamente por enfermeiros, há cuidados de higiene susceptíveis de serem supervisionados obrigatoriamente por enfermeiros e há cuidados de higienes susceptíveis de serem executados por qualquer pessoa. A grande maioria dos cuidados de higiene a dependentes são executados por não enfermeiros, mas quando chegam ao hospital passam a ser uma técnica espantosa e espectacularmente diferenciada da enfermagem. Quando um enfermeiro ensina um cuidador informal, ensina a dar banho ou ensina cuidados de higiene e conforto? O cuidador informal passa a ser enfermeiro na arte do banho? Para quem julga que os enfermeiros têm o controlo sobre os cuidados de higiene neste país, como técnica própria de enfermagem, saibam que há fisioterapeutas e outros profissionais da área como terapeutas ocupacionais, formados em geriatria a ensinarem cuidados de higiene (os aspectos mais técnicos como vestir e despir o doente com AVC, os cremes a utilizar, as massagens…). Porque se preocupam tanto que nos possam tirar os preciosos cuidados de higiene e a optimização da fralda? Nem os auxiliares ou assistentes operacionais os querem! Não se preocupam com os injectáveis que já foram para os farmacêuticos, com a reabilitação que já foi para os fisioterapeutas/fisiatras, com as colheitas de sangue que vão para os técnicos, com a enfermagem obstétrica que vai para as doulas, com a emergência pré-hospitalar que vai para os "tais TAE's", com técnicas de enfermagem que os médicos começam a querer usurpar... logo que possamos continuar de esponja na mão a lavar doentes e mudar fraldas, ninguém nos tira a dignidade!  Este assunto faz-me lembrar um tema da "música ligeira portuguesa" (ou "pimba"), mas com uma letra adaptada assim:

Podes ficar com os injectáveis, a EPH e a reabilitação
Mas não fiques com os banhos.
E até as colheitas de sangue, e a entubação,
Mas não fiques com o cocó.
Podes ficar com as grávidas e dizer que eu não presto,
Mas não fiques com o vómito.
Tira-me todas as técnicas, e o mais que consigas,
Mas não fiques com a relação de ajuda holística.

16 fevereiro, 2010

Olha a postura


...saber estar. Durante o tempo de curso, sobretudo em alturas de estágio, fui constantemente atormentado pelo "saber estar... saber ser", pela "postura" e penso que isto seja generalizado no nosso país. Com "postura", referiam-se certamente ao modo como nos comportamos, à nossa conduta durante o trabalho, perante os doentes e os outros profissionais, e já agora, perante os colegas. Na altura achava isto da "postura" um bocado ridículo... e contínuo a achar! Ridículo pela maneira como era abordado pelos nossos professores: "o cabelo tem de estar bem preso, nem um fio de cabelo solto no meio da testa... durante a passagem de turno e nas enfermarias, nada de estar encostado a nada ou com as mãos nos bolsos...". Depois incutiam-nos comportamento perante o doente de "ajuda... carinho... atenção... simpatia... ser prestável", e de maneira mais dissimulada, "servidão, escravidão, submissão e vassalagem" perante o doente, que "tem sempre razão" e "cujos desejos deverão ser as nossas ordens, pois estamos ali para o servir e sempre com um sorriso nos lábios", é a badalada "relação de ajuda" que a mim sempre me meteu alguma confusão, ainda não compreendi se pelo que é ou por aquilo que fazem dela. A verdade é que a "postura" é importante, em qualquer profissão e precisa realmente de ser melhorada nos enfermeiros onde existem muitas falhas que contribuem para uma imagem negativa da profissão. Contra mim falarei, mas quão comum não é os enfermeiros estarem numa enfermaria a discutir assuntos pessoais perante os doentes ou a contarem piadas, entre si ou com os doentes e já agora, na presença de outros profissionais? É isso comum noutros profissionais? Qual é a abordagem por exemplo dos médicos aos doentes? Contam-lhes o que almoçaram ou assumem uma atitude séria para serem levados a sério? Porque é que é visto como uma piada os cirurgiões agirem desta forma (descontraída/relaxada) durante uma cirurgia? Será que o nosso trabalho não é sério, rigoroso e exige concentração? Penso que devemos adoptar uma "postura séria" perante os outros para sermos levados a sério, para valorizarmos o nosso trabalho e mantermos alguma autoridade. Se pensarmos bem, quem nos atende com extrema simpatia é quem mais nos quer enganar. Os vendedores, sobretudo os "da banha da cobra" são de uma extrema simpatia. Já abordei a questão da simpatia e suas consequências anteriormente, acabando este post por ser um complemento do mesmo, mas surgindo por razões diferentes. A nossa imagem social é em grande parte construída por nós mesmos e será do nosso maior interesse sermos levados a sério por toda a gente para que ninguém tenha dúvidas de quando estamos "a brincar" ou "a sério" e assim nos darem a importância que precisamos por vezes e merecemos sempre.

07 fevereiro, 2010

A outra face da inveja


...ser invejado. Porquê? Por incrível que pareça, por ser uma classe trabalhadora, por trabalhar em mais que um sítio, por trabalhar mais horas que as outras pessoas. Farto de tanto ouvir falar nas "acumulações dos enfermeiros" (sobretudo nestas alturas de greves e manifestações) e esclarecendo desde já que eu só trabalho num sítio, 40 horas semanais (não me importava nada de trabalhar só 35), vou expor aqui a cegueira induzida pela inveja de muitas pessoas. Eu trabalho só num sítio, não por falta de oportunidades, mas porque para mim é mais fácil poupar o dinheiro do que ganhá-lo, mas tenho vários colegas a acumularem funções em vários sítios. Porque têm esta tendência os enfermeiros? por quererem levar um nível de vida superior ao que o seu ordenado permite? Para exibir um status sócio-económico à altura daquilo que a sociedade projecta? Para a maioria das pessoas, os enfermeiros ganham muito dinheiro, pelo que o base de €1020 revelado nesta fase de luta foi uma grande surpresa para a maioria das pessoas. Porque "os colegas também fazem"? Não sei, mas poderia-se fazer um trabalho de investigação sobre o assunto (como eu já referi anteriormente, para os psicólogos, sociólogos ou semelhantes, não para os enfermeiros investigarem). Já agora, investiguem também porque gera tanta inveja que os enfermeiros se sujeitem a trabalhar tanto, se o esforço é deles, se não roubam nada a ninguém, se trabalhar não é nenhuma regalia. Antes de virem falar de atitudes diferentes no público/privado, lembrem-se que é exigido o mesmo nos dois sectores e toda a gente sabe como reclamar de maus profissionais/falta de profissionalismo. E aqueles que têm tanta inveja, porque não arranjam eles também um segundo ou terceiro emprego? Conheço enfermeiros a acumular funções no Lidl... a arrumar prateleiras durante a noite, a acumular funções como empregadas de limpeza... concorrem a estes lugares em igualdade de circunstâncias. E para os que se admirarem com isto, pensem bem: nestes cargos, conseguem ganhar tanto ou mais (actualmente) que a trabalhar como enfermeiros num privado e têm (muito) menos responsabilidades, menos riscos laborais, provavelmente menos esforço físico e sem dúvida menos esforço mental e nem o estatuto varia assim tanto actualmente. Só para terminar, refiro outra coisa "comichosa", que parecem ser as "horas extra que os enfermeiros ganham"; é preciso esclarecer as pessoas que estas horas implicam trabalho, implicam trabalhar mais do que o que seria previsto, significa abdicar de horas de descanso, horas com a família, planos previamente feitos... E se acham que o facto de serem remuneradas  a um valor superior compensa isto tudo, digo-lhes que no meu serviço ninguém quer horas extraordinárias, é sempre um sacrifício e na maioria das vezes é preciso sortear quem será o sacrificado. Talvez esses invejosos por aí espalhados queiram vir assegurá-las... depois de assegurarem um turno, acredito piamente que não voltariam a invejar tal sorte.
  
"Inveja-se a riqueza, mas não o trabalho com que ela se granjeia."

01 fevereiro, 2010

O fim do cuidar


...ter os horizontes curtos (ou demasiado longos). Como referido em posts anteriores, cá está a minha reflexão sobre os enfermeiros que tentam aproximar ao máximo a enfermagem da sua essência, ao cuidar, que neste post será sempre no seu sentido mais restrito (e mais histórico). Estes enfermeiros que me parece estarem maioritariamente nas escolas (fora da prestação de cuidados portanto), mas também fora delas querem tornar a enfermagem autónoma e distinta das outras optando por um campo de acção que actualmente não é "ocupado" por ninguém, o do cuidar. Pergunto eu: nesta "guerra territorial" na área da saúde a que assistimos actualmente em que cada profissão tenta ficar com os campos de acção que mais lhe convêm, "guerra" essa onde a enfermagem tem sido (inertemente) vítima da usurpação de muitas das suas funções por vários profissionais, desde os mais antigos (farmacêuticos) até recentemente criados (ou em vias disso) TAE's, mas não se ficando por aqui, porque é que este campo de acção não foi ainda cobiçado por ninguém? Por antecipação e perspicácia da enfermagem não foi de certeza! Vou referir o Maslow, que com a sua hierarquia das necessidades nos diz que o mais importante para as pessoas é a fisiologia (respiração, comida, sono, excreção...) - plano onde os enfermeiros desempenham um importante papel, mas onde facilmente podem ser substituídos (pelo menos em grande parte das tarefas). Em seguida, depois de satisfeitas estas, surge a necessidade de segurança (do corpo, da saúde), onde o médico desempenha um papel fundamental - foi pela falta de saúde que a pessoa recorreu à instituição de saúde e portanto só depois de restaurada a saúde (altura em que tem alta e vai embora) é que a pessoa se começa a preocupar com a auto-estima, a solução de problemas, o respeito dos outros, a moralidade, ausência de preconceitos, etc. e assim se compreende que o doente não se importe que o médico não respeite tanto estas últimas necessidades, uma vez que satisfaz outras necessidades mais importantes para eles no momento. Assim, os referidos enfermeiros pretendem actuar na área das necessidades menos importantes das pessoas (doentes), pelo que nunca lhes poderá ser dada grande importância na sociedade actual, em que mal se consegue satisfazer a necessidade de saúde das pessoas e se procura a rendibilidade e a utilidade, a cura, não sendo possível financiar a satisfação de necessidades de menor importância. Quando num futuro (distante) a necessidade básica de saúde for facilmente satisfeita, então aí fará todo o sentido apostar em profissionais especializados nas áreas da estima e realização pessoal, mas nessa altura alguém se antecipará com certeza aos enfermeiros. E assim termino a minha análise do cuidar, seu passado e futuro.

25 janeiro, 2010

GREVE DIAS 27, 28 E 29



...apelar à greve. Porque o momento assim o exige, apelo a todos os enfermeiros (e futuros enfermeiros) que façam greve nos dias 27, 28 e 29 e que participem na manifestação nacional, em Lisboa no dia 29. Apelo ainda à participação em todas as manifestações regionais organizadas de modo a pararmos não só o SNS mas o país na medida do possível, valendo-nos do nosso elevado número. Não basta demonstrarmos a nossa importância na saúde, temos de captar a atenção das pessoas para as injustiças de que a nossa classe profissional é constantemente alvo, interferindo com o seu quotidiano, perturbando-as, captando a atenção dos media para assim levarmos o nosso descontentamento a toda a gente. Este é o verdadeiro momento para os enfermeiros do "agora ou nunca", pois tudo vai ficar decidido e não haverá mais greves ou manifestações que possam reverter a situação. Não podemos dar desculpa aos sindicatos para não conseguirem negociar uma carreira condigna à semelhança de todos os outros profissionais portugueses que recebem um ordenado correspondente ao seu grau académico. Quem não quiser/puder participar na manifestação deve assegurar os cuidados mínimos de modo a permitir a participação dos colegas interessados e quem assegurar mínimos tem de compreender que um dia de greve não é um dia normal e o serviço não deve funcionar normalmente ou se possível nem funcionar de todo e doentes e seus familiares devem sentir os efeitos da greve de modo a que esta seja eficaz. Não podemos continuar a ser (literalmente) o "parente pobre" da saúde. A greve assume-se neste momento como uma obrigação e não um direito!


Quem não berra, não mama!
                                    Sabedoria popular


(E quem não "berrar" agora, "que se cale para sempre")

23 janeiro, 2010

II Jornadas APEG



...divulgar a realização das II Jornadas da Associação Portuguesa de Enfermagem Gerontogeriátrica (APEG) a pedido desta, com o tema “Tive Alta Hospitalar e Agora?”, contando com a participação da Sociedad Española de Enfermeria Geriátrica y Gerontologia. Este evento vai decorrer nos dias 8 e 9 de Março de 2010 no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett – Porto.

Para breve o prometido post sobre os que "tentam rumar em direcção ao cuidar (no seu sentido mais restrito)", sendo provavelmente a última reflexão aqui sobre o cuidar que já começa a ser demasiado longa (fazendo lembrar os intermináveis eventos da OE sobre "éticas e afins").

16 janeiro, 2010

Sem rumo



...navegar sem rumo. A enfermagem portuguesa ainda não definiu o seu rumo, pelo que como seria de esperar, navegando desnorteados, acabamos por nos começar a afundar (a alta velocidade) como se pode ver p.e. pelas actuais negociações da nossa carreira (APELO À GREVE!!!). Considero haver uns enfermeiros que tentam girar o leme no sentido de uma profissão mais autónoma naquelas que são actualmente as nossas competências, ambicionando ainda adquirir mais competências de grau superior de complexidade (de resto condizentes com o grau de licenciado e conhecimentos técnico-científicos subjacentes), tentando adaptar a profissão ás exigências sócio-económicas; considero haver um segundo grupo que tenta rumar em direcção ao cuidar (no seu sentido mais restrito) e este merecerá um próximo post dedicado; por fim, há um terceiro grupo contrastante com estes dois, sem dúvida o pior deles, que representa aqueles enfermeiros que fogem da autonomia porque sabem que esta acarreta responsabilidade, são aqueles que não procuram o conhecimento porque não querem precisar dele, não querem novas competências (de maior complexidade) mas pelo contrário tentam descartar as suas actuais competências mais complexas para outros profissionais (que prontamente as aceitam) mas aceitando prontamente tarefas menos complexas, preferem trabalhar como robôs nas suas rotinas diárias, à espera que o dia da reforma chegue enquanto se refugiam nos ganhos que os outros colegas vão conseguindo para a profissão. É no meio deste triplo "puxar de cordas" que nos encontramos e se actualmente um dos grupos apresenta vantagem, diria que infelizmente parece ser o último dos referidos. Não conseguimos definir a nossa área de actuação para nos podermos distinguir dos restantes profissionais de saúde e assim, enquanto nos vamos desmembrando, "os abutres" à nossa volta vão aproveitando para ficar com o bocado que mais lhe apraz , sejam os injectáveis, seja a emergência pré-hospitalar, a reabilitação, ou outro qualquer dos que recentemente temos facilmente perdido. Enquanto gastamos as forças a puxar cada um para seu lado, o governo aproveita a nossa fraqueza para nos dar o golpe final (que nem sequer de misericórdia é).

13 janeiro, 2010

Aprender com a história



...ser filho de uma mãe. Este post surge na sequência do anterior sobre o cuidar, que é portanto a verdadeira essência da enfermagem. Florence Nightingale, mãe da enfermagem moderna foi portanto a primeira grande cuidadora? Sim e não. No sentido mais restrito, enquanto "relação interpessoal", não terá acrescentado nada de significativo à enfermagem. Num sentido mais lato, de apoio "no decurso de processos de transição" (onde na verdade se pode incluir tanta coisa) foi no entanto revolucionária. Quais foram então os seus contributos tão revolucionários? O primeiro terá sido uma melhoria do tratamento médico, sobretudo com a assépsia nos tratamentos efectuados como forma de reduzir a mortalidade dos feridos (Guerra da Crimeia), facto comprovado com a análise estatística dos dados, que obtinha e organizava, apresentando-os posteriormente em forma de gráficos (de forma revolucionária), sendo esta uma das suas principais "armas"; por fim, deu ainda início à formação das enfermeiras. Eu concluo portanto, que a enfermagem moderna surgiu então quando Nightingale acrescentou algo ao cuidar (no sentido restrito), quando melhorou o tratamento dos feridos, quando inseriu a estatística "nos tratamentos" e deu inicio à formação, quando trouxe ciência para a enfermagem. Sinto que actualmente existem muitos "defensores do cuidar" que querem fazer esquecer Nightingale e querem voltar para uma enfermagem de caridade e compaixão (científica?) para com o próximo, de apoio moral e não de tratamento; num próximo post, reflectirei sobre as consequências de seguir tal caminho.


02 janeiro, 2010

Cuidado!



...cuidar. No seguimento de um post anterior, vou expor a minha reflexão sobre aquilo que enche a boca a tantos enfermeiros, mas não parece encher o bolso - o cuidar. Neste primeiro post vou só definir este termo (que de concreto não tem muito) para não me alongar demasiado.

Para a maioria dos autores a essência da enfermagem é mesmo o cuidar, pois tudo o resto será mutável na enfermagem. A diferença entre tratar/cuidar e os "holismos" é certamente incutida em todos os enfermeiros durante o curso, pelo menos na sua vertente teórica (a aplicação prática "é outra conversa"). De toda a teoria que me foi incutida, diria que o cuidar se focaliza na relação interpessoal com uma pessoa ou grupo de pessoas (família ou comunidade) e que visa apoiá-las no decurso de processos de transição, sejam eles no âmbito da saúde ou das transições decorrentes do ciclo vital. Os enfermeiros, mais do que centrados nos processos patológicos, interessam-se pelas implicações que esses processos e outras transições possam evidenciar junto das pessoas que eles assistem. Segundo Collière, desde o início da história da Humanidade que o cuidar é imperativo para garantir a continuidade da vida do grupo e da espécie e esteve implícito ao “Ser Humano” inserido numa comunidade. Segundo Hennezel, “Cuidar é hoje e continuará a ser, o fulcro da prática de Enfermagem, e por mais sofisticado que o desenvolvimento tecnológico venha a ser, a interacção pessoal será sem dúvida fundamental para a recuperação e manutenção da saúde e maximizar o bem-estar dos indivíduos, famílias e comunidades”.

Partindo da definição do "cuidar", vou nos posts seguintes reflectir sobre as implicações de (querer) ser um profissional no cuidar.

01 janeiro, 2010

Ano Novo Vida Nova



...desejar a todos um Feliz Ano 2010.
Que seja um ano de realização individual para cada um e da enfermagem no geral.


"Jamais haverá ano novo se continuar a copiar os erros dos anos velhos."
                                                                  Luís de Camões