18 novembro, 2010

A doença do hospital de Viana do Castelo


...dar a voz aos nossos clientes. Publico a pedido da autora o seguinte:


"A DOENÇA DO HOSPITAL DE VIANA DO CASTELO (ULSAM)
ANTÓNIO MARTINS PARADELA JÚNIOR, meu pai está novamente internado na cama 21, piso 4, cirurgia 1. Este internamento, foi decidido, após uma espera de 26 horas nos corredores da URGÊNCIA, chamado na ULSAM de VIANA DO CASTELO,  de OBS - MACAS, com horas de visitas marcadas, como se estivesse o doente num OBS. Um corredor de loucos !
Os maqueiros batem com as camas nas macas por falta de espaço, auxiliares que gritam de um lado para o outro, parece que estão no 'Campo d' Ágonia', os enfermeiros correm de um lado para o outro porque não são suficientes, os médicos saem da urgência para o bloco e o doente fica sem saber nada sobre o seu diagnóstico, porque só pode ser dito pelo médico que o acompanha e o mesmo está no bloco. Um TAC mandado fazer às 9h45m, só é informado à família o resultado, às 21h30m.
Meu pai entrou na urgência no dia 7 de Outubro de 2010, às 21h45m, e subiu para internamento, no dia 8 de Outubro de 2010, às 23h50m. Com 87 anos, não é permitido acompanhante, porque está em OBS - MACAS, no corredor de um manicómio, onde todos gritam e ralham, e ninguém tem razão.
Sra. Ministra Ana Jorge, permita-me que lhe faça um convite especial. Venha passar 26 horas em OBS - MACAS, nos corredores da Urgência do ULSAM de Viana do Castelo. Ofereço-lhe a MACA I, do Sr. António Martins Paredela Júnior, meu pai, a quem AMO muito, como com certeza a Sra. Ministra, ama o seu. Venha sentir na própria pele o desespero da espera, da solidão, do afastamento da família junto com a doença, a razão pela qual nos leva a ficar nesse corredor o tempo que nos obrigam.
Por onde anda a Sra. Ministra Ana Jorge ? Em 3 meses é a terceira vez que exponho neste livro o meu descontentamento (14/10/2010), e nunca obtive resposta do seu gabinete. Isto só prova que a saúde também está muito mal no seu ministério. Venha para a rua, venha para os hospitais. O que os olhos não vêem, o coração não sente !
Os utentes, que também são contribuintes é que sofrem com a má gestão feita dos dinheiros públicos. E agora só se ouve falar em 'CONTENÇÃO'. 'ABUNDÂNCIA PARA OS MAIS FAVORECIDOS, CONTENÇÃO PARA OS MAIS NECESSITADOS'.
É isto que a Sra. Ministra tem para nos dar !
É este o País que temos !
Espero que a Sra. Ministra esteja bem de saúde e se lembre da saúde dos outros. Onde estão os direitos dos doentes ?. Será que os mesmos só têm deveres ?. A Sra. Ministra, sabe quais são os seus deveres ?, ou só sabe os seus direitos ?.
O HOSPITAL DISTRITAL DE VIANA DO CASTELO, hoje, ULSAM, foi construído para prestar cuidados de saúde cinco estrelas, só que, quatro já caíram e a quinta está balançando.
Isto é um exemplo da saúde da Urgência do ULSAM de Viana do Castelo, com certeza o câncer já tem ramificações suficientes para infectar muitos utentes que por ali passam. É caso para dizer, pensem, antes de ficar doentes !.
LÚCIA FRANCISCA PARADELA
Rua do Calvário Nº 89
Vila Mou - Viana do Castelo
Estrada da Papanata Nº 73 - 1º Esq.
Viana do Castelo
Contribuinte - 124572650"

Parece que não são só os enfermeiros a ver que a saúde em Portugal está doente, neste modelo de saúde centrado nos médicos, onde se valoriza a doença e não a saúde, neste modelo onde os enfermeiros se deixam enrolar não remando contra a maré, não defendendo os seus interesses e os seus clientes. Os resultados estão à vista...

12 novembro, 2010

Portugal vs Brasil



...comparar a situação da enfermagem em Portugal e no Brasil. Ciente das visitas regulares por colegas brasileiros, gostei de conversar com uma colega brasileira (já aposentada) sobre a realidade da enfermagem brasileira. Temos pontos em comum, que já sabia dos comentários ocasionais aqui no blog, mas também temos pontos divergentes. Em comum, saliento  a progressiva perda de visibilidade (social) e desvalorização do enfermeiro no panorama da saúde, a investigação em áreas que não são a enfermagem, investigam-se os enfermeiros mas não a enfermagem. Como maiores diferenças, é de salientar que fiquei com a ideia que os colegas brasileiros dão mais valor à sua saúde, física e mental, procurando não trabalhar muito tempo em regime de roulement, por exemplo, a realidade do desemprego na enfermagem, que me parece ser mais preocupante em Portugal, apesar do Brasil estar a caminhar nesse sentido,  ainda a existência das auxiliares de enfermagem, que em breve surgirão por cá e julgo ainda existirem os técnicos de enfermagem; por fim, no Brasil os enfermeiros não são regulados por uma ordem profissional, desconheço quem faz esta regulação. Se os colegas acharem que estou enganado ou quiserem acrescentar alguma coisa, sintam-se à vontade para deixar os vossos comentários.

05 novembro, 2010

O fim?


...vivenciar diariamente a morte. Acompanhamos o doente desde a sua admissão, durante o seu internamento até à sua saída, criando ligações, profissionais, mas por vezes também afectivas, estabelecemos uma relação empática. Assistimos por vezes impotentemente ao declinar da saúde e das forças, recebendo confissões, queixas e pedidos dolorosos de ouvir. Estamos com o doente nos momentos finais e temos de informar os familiares e ajudá-los a iniciar o processo de luto, o que pessoalmente considero ser o mais dificil. É muito dificil, por vezes impossivel mesmo não sentir simpatia (sim+pathos) para com os familiares; ainda que digamos para nós mesmos que o doente não era nosso familiar, nem nosso amigo, o grau de sofrimento normalmente manifestado pelos familiares (por vezes presentes no momento) afecta-nos profundamente, mesmo procurando escapatórias (que talvez não sejam as mais eficazes) como a indiferença, pela qual ás vezes somos criticados, por quem desconhece a complexidade do processo. Cada vez mais as implicações destas situações nos profissionais de saúde são alvo de estudos, mas continuam desvalorizadas e os seus efeitos podem ser muito nefastos para o profissional que sem acompanhamento, sem ajuda é sujeito a elevados níveis de stress e de forma cumulativa pode levar a situações como o síndrome de burnout. São complicações que afetam a pessoa não só na sua vida profissional, mas também na sua vida pessoal, afetam os seus familiares e amigos mais próximos. Infelizmente, ninguém cuida de quem cuida.